POLAR DIVISÃO 4 (Finalizado)


Perguntei ao Ricardo Achcar como foi a aventura de abrir uma fábrica de carros de corridas nos anos 70. E ele respondeu. Leiam com cuidado, carinho e atenção o seu depoimento. Você não vai ter uma narração fria e seca de um passado distante.
Os fatos e detalhes da história da Polar ainda estão muito vivos e presentes na vida deste empreendedor chamado Ricardo Achcar.
Perguntei também detalhes da construção do Protótipo Polar da Divisão 4, se era baseado na Lola T-260, etc.
Acompanhem tudo e depois comentem, por favor.
"Maurício,
está correto que o Polar D-IV foi baseado na Lola T-260, novamente me apoiando no principio de impacto na área de penetração principal, maior estabilidade direcional em qualquer condição em curva e o todo baseado nos conhecimentos do anos 70.

Marcos Carbone foi adicionado ao grupo de trabalho da Polar quando nos estabelecemos em Maria da Graça. Ele era desenhista técnico de mão cheia, mas apenas desenhista, e que isto fique claro. O Marcos trabalhou com o Ronaldo Rossi numa empresa que lidava com máquinas de leme de naves e este, o Rossi, era engenheiro na empresa. O Rossi por sua vez, era formado em Atlanta, nos EUA, era um engenheiro de campo pelo que sempre me pareceu ser na sua atividade na Polar, não entendia efetivamente nada em materia de carros de corrida ou geometrias de suspensão, havia tentado a carreira de piloto indo com o Giu -José Maria Pereira Ferreira- e não renovaram o contrato na época com a Roiyal Label- Seagrams, contrato levantado pelo Giu.
Tendo retornado da Inglaterra e sem atividades na época em que eu havia iniciado a Polar, Ronaldo se aproximou e passou a colaborar na Polar que se encontrava em Botafogo, dentro de um açougue falido, na esquina da Rua Conde de Irajá.
Este local foi batizado de "Suinos e Bovinos" pelo meu mecânico de fé, chamado Chico Preto, da Rocinha onde eu ia matar uma feijoada aos Sábados.
Como o Rossi me ajudava e mostrava profundo interesse ao assunto construção de um carro de corrida eu o convidei, e que isto fique claro, para se tornar meu sócio e lhe cedi, no sentido de cessão, sem cobrança, 50% da Polar. Ronaldo Rossi se mostrou um admirável administrador, competente engenheiro e graças ao seu bom senso me deixava decidir sobre o coração das máquinas entendendo que eu tinha a veia do acerto. E o que foi cedido foi regiamente pago inclusive me devolvendo a Polar de mão beijada quando tudo se acabou com o General Oziel de Almeida decretando o fim das corridas no Brasil por um ano...ó pátria amada!
Suinos e Bovinos, de acordo com o Chico Preto, de fato substituiu a Horti-Grangeiros que era onde de fato, fazer um carro se originou, na granja "U", do Milton Amaral em Jacarepaguá; de onde fomos expulsos num daqueles rompantes do Miltinho que o Victor Rabello apelidou e colou de "Campo Meu".
Este apelido era de fato porque o Milton tinha um campo de futebol na granja que o velho admiravel Milton Amaral, pai santo vigoroso pai e amigo querido, havia construido para o Pau Queimado. De quando em vez o Milton dava um xilique, tomava a bola e gritava"o campo é meu"e fim de jogo.
O Victor Rabello, que tinha 1metro e 53 de altura, mas tinha sido Mister Minas Gerais no halterofilismo, era de falar baixo, tinha um par de olhos verdes penetrantes e infezadíssimo, com quem participei de várias porradarias e noitadas de arrepiar o Jorge Amado na Bahia, um dia deu uma corrida no 'Campo Meu"e acabamos na rua, foi quando então quando surgiu a Suínos e Bovinos....

Maria da Graça ficou sendo Lâmpadas e Blackout porque se situava em frente a fábrica de lâmpadas da GE e o Chico Preto resolveu apagar a sua luz e preto que é, sumiu na escuridão não aguentando o 1metro e 92 do Rossi, filho de Alemão com Austríaca, disciplinado, calado bem humarado, mas furiosamente adminsitrativo, com baixa noção de pandeiro e requebrado nenhum...
Vitor Rabello ficou em Jacarapaguá para sempre, mecâncio de tudo e de todos e acabou morrendo a 2 anos atrás no meu galpão à beira do autódromo achincalhado do Rio de Janeiro, com sua lagoa bela e poluída, retrato de uma cidade maravilhosa para quem mora do quinto andar para cima nesta cidade.

Maurício Morais: você me compromete. Eu estava em silêncio e era dono da minha voz."

Comentários

Anônimo disse…
Tive o prazer de trabalhar com o Carbone, grande profissional, era "desenhista projetista" na época na Microlab em Bonsucesso, Rio. Fizemos um projeto juntos. Contava boas historias do Achcar, da Polar, etc. Havia uma historia de um piloto, creio que era o Achcar, que disputava um campeonato de F3 ou F-Ford na Englaterra, a garagen do formula era o quarto do piloto, o formula entrava e saia pela janela do quarto, já que os donos da casa nao podiam saber disso.
O texto do Achcar esta primoroso, excelente!

JRLemos
Sidney Cardoso disse…
Maurício
Mais uma vez parabéns por mais estas belas ilustrações de um carro que foi campeão se não me falha a memória por sete anos.
Parabéns extensivo a narração do amigo Ricardo Achcar, bom piloto, bom construtor, bom acertador de carros, ótimo papo e de uma criatividade latente.
Quem o conhece sabe que sua criatividade transborda todo tempo, ele está sempre criando algo novo.
Espero, Ricardo, que antes de regressar aos E.U.A nos brinde com mais uma de suas criações.
Forte abraço a todos.
Mauricio Morais disse…
Obrigado pelos elogios Sidney.
Sobre o Achcar, realmente penso como você. Uma cabeça brilhante como a dele deve ter muita idéia interessante pra botar em prática.
Forte abraço.
Adorei a ilustração, a perspectiva, as cores, os carros...muito bom! Fantástico!!!
Sem ser subserviente (puxa saco),é um prazer ver trabalhos desse nível, posso ser meio suspeito pra falar, mas um trabalho bem feito como esse tem que ser reconhecido e elogiado não só pelo tema mas pelo trabalho do "artista", pela arte, que é de primeira.
Continue acelerando meu "amigo"...

Um abraço!

Ararê
Anônimo disse…
Maurício e Ricardo,
Sempre tive enorme admiração pelo talento dos Intrépidos e criativos projetistas e empreendedores do Fantástico e Profícuo AUTOMOBILISMO BRASILEIRO DE COMPETIÇÃO das décadas de '60 e '70/80 !
Qd leio ou escuto histórias como estas me remeto sempre àquelas épocas onde o talento(algumas vezes empírico) se misturava ao romantismo daquela fase do nosso automobilismo.
Ahhh, esses homens fantásticos e suas incríveis máquinas de competição... Que saudade!!

Maurício, quem tem histórias sensacionais tb para serem lembradas é o Grande Amaury Mesquita!!! Não se esqueça dele...
Mauricio Morais disse…
Valeu a dica Paulo. Abs.